o Montado de Sobro

História e enquadramento

A Quinta Grande é um mosaico agro silvo pastoral onde o montado de sobro marca a paisagem e orienta a gestão do território. Dos 1 521 hectares da propriedade, cerca de 900 são ocupados por montado, distribuídos entre aproximadamente 600 hectares de montado puro, dominado pelo sobreiro Quercus suber e onde se localizam a maioria dos prados e pastagens, e cerca de 300 hectares de montado misto com pinheiro manso Pinus pinea. Subsistem ainda pequenas manchas de pinheiro bravo, sem expressão estrutural. Esta distribuição assegura a base produtiva da propriedade, ligada à cortiça e ao pastoreio, e suporta uma elevada diversidade de habitats que sustentam a fauna e a flora mediterrânicas. 


A área florestal está integrada na Zona de Intervenção Florestal do Baixo Sorraia, gerida pela APFC, que assegura enquadramento técnico, coordenação de prevenção de incêndios e apoio especializado à gestão.

O levantamento realizado em Sistemas de Informação Geográfica identifica uma superfície florestal arborizada com mais de 950 hectares, complementada por áreas agrícolas, galerias ripícolas, charcas e parcelas de uso misto que completam o mosaico ecológico da propriedade.

O montado que hoje existe resulta de décadas de maneio consistente, dedicação e atenção permanente ao sobreiro. Produção de cortiça, pastoreio, proteção da regeneração natural, pequenas plantações, conservação do solo e cuidado com a fauna e flora convivem de forma estável num sistema que é simultaneamente produtivo, resiliente e adaptado ao clima mediterrânico. É um ecossistema que atravessa gerações e que continua a ser uma das bases da economia, da biodiversidade e da identidade rural da Quinta Grande. 

Estrutura e tipologia do montado

A floresta de sobro da Quinta Grande apresenta três estádios de desenvolvimento, que se complementam e garantem a regeneração contínua e a sustentabilidade do sistema.


Montado adulto 

O montado adulto é a área mais produtiva, formada por sobreiros maduros, com copas desenvolvidas e tiragens regulares de cortiça. É aqui que se concentra a produção principal e onde se garante sombra, alimento e equilíbrio ecológico entre a árvore, o solo e as pastagens.

O inventário florestal mais recente registou um PAP médio de 1,46 metros
(o PAP é o perímetro do tronco medido à altura do peito e indica o porte e a vitalidade do sobreiro).
A exploração mantém-se muito prudente, com a maioria dos sobreiros classificados como pouco explorados, assegurando vigor, calibre futuro e regularidade de produção.

As campanhas de tiragem seguem o ciclo no novénio, com planeamento faseado e marcação anual, respeitando as condições fisiológicas e climáticas de cada ano.

A mortalidade é muito baixa, com quebras de 8% a 10%, por novénio, reflexo de um povoamento estável e de práticas consistentes de sanidade, conservação do solo e gestão do coberto.

Plantação e adensamentos

As plantações manuais são usadas em clareiras, margens e novas parcelas para reforçar a densidade do povoamento.

Utilizam-se plantas micorrizadas de viveiros de proveniência local, garantindo boa adaptação genética e fisiológica ao solo e ao clima locais.

Sempre que necessário, o gado é temporariamente excluído até as jovens árvores ganharem estrutura e sistema radicular sólido.

Estas plantações corrigem assimetrias, facilitam o maneio das máquinas e aceleram a transição entre gerações de árvores.

Embora representem um investimento inicial, tornam-se uma solução eficiente a médio prazo, assegurando a continuidade produtiva e ecológica do montado.

Regeneração natural

.A regeneração natural é fundamental para renovar o montado com árvores de origem local, melhor adaptadas ao solo e ao clima da propriedade.

Os jovens sobreiros que surgem espontaneamente são identificados, georreferenciados e protegidos com malhas individuais de arame, permitindo que o pastoreio continue na parcela sem danificar as plantas.

Desde 2021 foram instaladas mais de 4 300 proteções deste tipo, garantindo que milhares de árvores se estabelecem no terreno sem necessidade de plantações extensivas.

Esta regeneração assegura a continuidade genética do montado e reforça a sua resiliência a longo prazo.

Extrair cortiça com critério

A extração de cortiça segue o ciclo tradicional de nove anos, organizado em cinco tiradas distribuídas de forma homogénea pela propriedade.

Este sistema evita concentrações excessivas de produção, estabiliza o rendimento e permite ajustar cada tiragem à fisiologia da árvore.

A venda da cortiça segue os modelos tradicionais de mercado, mas é fortemente apoiada pelo cálculo do valor provável da cortiça, obtido através da amostra de qualidade realizada pela APFC antes da tiragem, diretamente no montado.

Esta avaliação identifica calibres, proporções de qualidade e eventuais pragas desvalorizadoras, fornecendo uma estimativa realista do valor comercial e apoiando a negociação. 

Valor ecológico ambiental

O montado da Quinta Grande é um ecossistema mediterrânico resiliente, sustentado pela interação entre sobreiros, pastagens naturais e matos autóctones. Esta estrutura cria um ambiente de elevada diversidade biológica e desempenha funções ambientais essenciais.

Principais serviços ecológicos:
Protege o solo contra erosão e compactação, favorecendo a infiltração e a recarga natural de água.
Regula o microclima e reduz o risco de incêndio através do sombreamento e do pastoreio sob coberto.
Funciona como sumidouro de carbono, contribuindo para a neutralidade climática da Quinta.
Mantém um mosaico de habitats que suporta aves, mamíferos, répteis, anfíbios e uma grande diversidade de insetos.
Sustenta polinizadores e aves insetívoras que ajudam ao controlo natural de pragas.
Reforça a conectividade ecológica entre zonas húmidas, pequenas turfeiras, pinhais e galerias ripícolas.

A gestão baseia-se na valorização das espécies autóctones, garantindo a integridade ecológica e o equilíbrio natural do ecossistema mediterrânico.

Um compromisso contínuo

O montado da Quinta Grande é um sistema vivo que exige acompanhamento diário.

Pastoreio equilibrado, gestão cuidada de prados e pastagens, manutenção da infiltração de água no solo, tiragens bem programadas e regeneração acompanhada são decisões que garantem o bom estado do povoamento. A estes cuidados junta-se a atenção permanente à fauna e à flora que aqui encontram habitat, e que importa preservar ao longo de todo o ano.

Cada ciclo de cortiça e cada nova árvore renovam este património, assegurando que o montado se mantém produtivo, estável e adaptado ao clima mediterrânico. É um património que cuidamos com dedicação e orgulho, todos os dias.


Vacada Mertolenga

equilíbrio e gestão

A vacada Mertolenga, com cerca de 90 vacas aleitantes e dois sementais, é parte integrante do montado.
A sementeira de prados temporários e o pastoreio rotacional e adaptativo contribui para o controlo da vegetação, a reciclagem de nutrientes e a redução de combustível fino, mantendo o equilíbrio entre produção e conservação.

A raça Mertolenga, adaptada ao clima de sequeiro e ao mosaico de pastagens, é essencial para compatibilizar economia e ecologia.

Durante a primavera e o período de queda de bolota no inverno, o gado utiliza o sob-coberto como área forrageira, beneficiando de um alimento natural e ajudando à dispersão de sementes.

Nas áreas de plantação ou regeneração, o acesso é controlado, garantindo o desenvolvimento seguro das jovens árvores e a estabilidade do solo.
A carga animal é ajustada conforme a biomassa herbácea e os indicadores do inventário.

Apoio técnico e colaboração

A Quinta Grande beneficia do apoio técnico permanente da APFC — Associação de Produtores Florestais de Coruche, entidade de referência na valorização da cortiça e na promoção da gestão sustentável do montado e das florestas em geral.

A APFC é responsável por um trabalho ímpar de avaliação do valor provável da cortiça antes de cada tiragem, com base em metodologias técnicas que consideram a espessura, a densidade e estado fisiológico das árvores.
Esta avaliação permite prever receitas, planear operações e garantir uma gestão económica transparente.

Além disso, a APFC presta:

  • Apoio técnico contínuo em boas práticas de tiragem e conservação da cortiça;
  • Acompanhamento de medidas agroambientais e de certificação;
  • Formação e sensibilização ambiental;
  • Representação institucional dos produtores junto de entidades públicas;
  • Promoção de inovação e investigação aplicada à fileira da cortiça.

A colaboração com a APFC reforça o rigor e a credibilidade da gestão da Quinta Grande, assegurando que cada tiragem é conduzida com base em conhecimento técnico, experiência e compromisso ambiental. 

Um compromisso com o futuro

O montado da Quinta Grande é um sistema vivo que depende de decisões diárias tais como, um pastoreio equilibrado, gestão cuidada de prados e pastagens, manutenção da infiltração de água no solo, tiragens bem programadas, regeneração acompanhada e conservação permanente.

Juntam-se a estes cuidados a atenção à fauna e à flora que importa proteger.

Cada ciclo de cortiça e cada nova árvore renovam este património, garantindo que o montado se mantém produtivo, resiliente e parte integrante da paisagem rural do Ribatejo.

É um património que cuidamos com dedicação e orgulho, todos os dias.